No que diz respeito à interação entre universidade e cidade, Ribeirão Preto tem um enorme potencial. No entanto, vivemos em uma cidade extremamente desigual. Somos um grande polo universitário e contamos com a Universidade de São Paulo (USP) e diversas universidades particulares na cidade. Produzimos conhecimento nas mais diversas áreas e todo esse conhecimento é ainda muito incipiente e ignorado nas definições das políticas públicas municipais. Dentre as diversas contribuições da universidade, destaca-se a contribuição para o desenvolvimento econômico-social da soberania nacional, pela disponibilização de suporte científico e tecnológico, além da formação de recursos humanos. A universidade através de seu papel de ensino, pesquisa e extensão, possui em suas mãos, elementos essenciais para este desenvolvimento.

Em relação a universidade pública brasileira, ela também vem cumprindo um papel importante para a superação de visões binárias de mundo, entre elas, a luta pelas cotas etnicorraciais e sociais, aumentando o número de estudantes negros e periféricos nas universidades, promovendo a inclusão e a diversidade em um ambiente historicamente ocupado pela elite branca brasileira. Porém, a universidade tem uma responsabilidade muito importante contra o desconhecimento, em uma sociedade contaminada pela difusão de notícias falsas (fake news), afinal, conhecimento é uma arma poderosa, emergencial e necessária, e ataca diretamente os poderosos. Para combater um outro aspecto desse enfrentamento, não podemos esquecer da luta daqueles que acreditam na Ciência para combater o obscurantismo, expresso ao longo do governo Bolsonaro durante a pandemia do COVID-19, indo contra todas as orientações científicas e da OMS. Além disso, os ataques frontais à liberdade de cátedra, através do projeto que pretende amordaçar professores como o “Escola Sem Partido”, os ataques à autonomia universitária, como o PL 529/2020 do Governo Doria em 2020, com o objetivo de atingir as três universidades paulistas e a FAPESP. Conseguimos derrotar o PL 529/2020, contudo, o atual governo de Tarcísio de Freitas, mais uma vez ataca a pesquisa e a ciência paulista através da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025, aprovada na Alesp, que permitiu o corte de 30% no orçamento da FAPESP. O corte pode representar a perda de cerca de R$ 600 milhões para a agência e consequentemente para a ciência paulista. Todos esses ataques colocam a necessidade da luta em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade, da produção científica nacional e paulista com financiamento público.

Porém, por trás dessas disputas, mais que uma postura, está uma concepção que organiza a extrema-direita, no Brasil e no mundo: o descrédito com a ciência. A máxima evidência teórica se reproduz em conceitos como o negacionismo climático e o terraplanismo. A luta de agora é fundamental: demonstra que apenas uma visão que não se comprometa com os lucros das grandes empresas pode ser consequente na defesa da ciência como ferramenta para defender o conhecimento; para usar esse conhecimento a serviço da vida e da maioria da população. O vetor do movimento por mais verbas à pesquisa para a Educação Superior deve ser o de estimular e defender a ciência para amplas camadas, combatendo a ignorância. Para tanto, buscamos a unidade de ação com todos aqueles que defendem a ciência, o financiamento público da pesquisa e na educação e o caráter social da mesma. A defesa da ciência e das universidades públicas, detentoras de 90% das pesquisas desenvolvidas no Brasil, são os pontos de partida para combater a presente pandemia e são pontos de chegada na luta por outro futuro. Diante deste cenário, propomo-nos:

● Lutar pela garantia de criação de convênios entre as universidades públicas e privadas do município com o executivo, que incentivem a formação de políticas públicas através da promoção de intersetorialidade entre as secretarias municipais (saúde, educação, cultura, planejamento etc.), reforçando a importância da extensão universitária como forma de política pública para o município;

● Criar o Projeto “Ciência vai à escola”, onde docentes, pesquisadores e estudantes das universidades públicas e privadas do município possam fomentar e auxiliar processos pedagógicos em feiras de Ciências, palestras, atividades curriculares e extracurriculares nas escolas públicas de Ribeirão Preto;

● Criar o “Ciência vai à praça”, como ferramenta de difusão do conhecimento e de Ciência que é produzida nas universidades para a população de Ribeirão Preto, a fim de garantir a ampliação e disseminação do conhecimento gerado na Universidade através da divulgação científica de qualidade, elemento que vai muito além da cultura, do lazer, e do entretenimento;

● Criação do Programa de Pré-Iniciação Científica e do Pré-Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, aos moldes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com subsídio entre o poder público (prefeitura) e as Universidades de Ribeirão Preto. Este programa tem por objetivo promover a cultura científica e tecnológica para estudantes do Ensino Fundamental e Médio, mediante o desenvolvimento de projetos de pesquisa em todas as áreas, sob a orientação de docentes universitários.